Começou ontem (13/04/2025) a Expo 2025 em Osaka, Japão. Com duração de seis meses, o evento que reúne centenas de países e espera receber algo em torno de 30 milhões de pessoas até outubro desse ano tem como tema: “Projetar a Sociedade do Futuro para as Nossas Vidas”, mirando em pontos estratégicos com a finalidade de atingir metas de desenvolvimento sustentável (SDGs, em Inglês), e também direcionar o país rumo à Sociedade 5.0, baseada em uma maior integração entre seres humanos e IA, robôs, Big Data e IoT (Internet of Things), depois de termos passado mal e porcamente por sociedades de caça e coleta, agricultura, indústria e informação.
Historicamente, as Exposições Mundiais são berço de uma série de inovações tecnológicas que acabam sendo introduzidas de vez na vida das pessoas, como o elevador (criado por Elisha Graves Otis), que foi apresentado pela primeira vez na Exposição da Indústria de Todas as Nações, em Nova York, no longínquo ano de 1854. Mas o que chama mesmo a atenção é a arquitetura dos pavilhões e estruturas construídas especificamente para esses eventos. Livres das restrições legais e ambientais que norteiam o trabalho diário de arquitetos e engenheiros, na Expo os privilegiados profissionais podem projetar e construir com liberdade para expressar suas ideias de uma forma mais clara, através de experimentações tecnológicas gerando resultados mais carregados de simbolismo e identidade.
Embora seja um evento temporário, com os pavilhões sendo desmontados no final, alguns deles permanecem de pé até hoje e acabam se tornando marcos importantes, sendo a Torre Eiffel, construída para a Expo de 1889 em Paris, talvez o caso mais emblemático. Outros exemplos marcantes são: o Pavilhão de Barcelona, projetado por Mies Van der Rohe para a Expo de 1929; o Pavilhão Alemão para a Expo de 1967 em Montreal, projetado por Frei Otto e a Cúpula Geodésica, de Buckminster Fuller também para Montreal.
Esta será a quinta vez que o Japão receberá o evento, sendo a Expo '70 - também em Osaka - a mais relevante delas e a primeira a ser realizada em território asiático. No fim da década de 1960, o Japão seguia firme em seu propósito de reconstrução física e psicológica após a Segunda Guerra e utilizou tanto os Jogos Olímpicos de 1964, quanto a Expo '70 como vitrine para mostrar o que o país pretendia em termos de sociedade e futuro. Crescendo em média 9% ao ano entre 1955 e 1973, o Japão era território fértil para proposições arquitetônicas e urbanísticas, com destaque para o movimento Metabolista, nascido em 1960 que propunha, de forma bem resumida, que cidades e edifícios se desenvolvessem de forma orgânica - do todo pra parte - utilizando a força da indústria para a fabricação desses elementos.



A Expo '70 foi a segunda mais visitada da história, com cerca de 64 milhões de visitantes, perdendo apenas para a de Shanghai, em 2010. E o que essas pessoas viram foi um grande showroom futurístico e uma amostra - agora realizada - das ideias metabolistas trancadas no imaginário de arquitetos como Kurokawa e Kikutake, além da formalidade estrutural da grande cobertura do Festival Plaza, projetada por Kenzo Tange e da icônica Torre do Sol, de Taro Okamoto. O local onde foi realizada a Expo '70 hoje é um grande parque (Expo '70 Commemorative Park) e ainda abriga alguns resquícios do evento, como um “pedaço” da grande cobertura de Tange, além do Steel Pavilion, de Kunio Maekawa - que foi transformado em um museu - e da carismática Torre do Sol, que hoje é estampada em chaveiros, camisetas e ímãs de geladeira.
A Expo 2025 será realizada na ilha artificial de Yumeshima, a oeste da Universal Studios, em Osaka. O design geral ficou por conta de Sou Fujimoto, que assina a grande cobertura circular em madeira (hoje a maior estrutura do mundo desse material), promovendo a circulação descentralizada entre pessoas e ideias, conectando mundo através do mar e do ar. Ao contrário da grande cobertura de Kenzo Tange, que era como um grande “tronco” de onde surgiam ramificações para os pavilhões, o caráter circular do design de Fujimoto passa uma ideia de fluxo; e é dentro desse grande círculo de fluxo ininterrupto que nascem as ideias para uma sociedade do futuro, através da troca e da interação entre as pessoas e a natureza.



A Expo “do Mar, do Ar e da Terra” promete trazer inovações tecnológicas como plantas que crescem no escuro, corações artificiais feitos com células humanas e hologramas que podem ser “tocados”. E boa parte das inovações buscam lidar com a pressão cada vez maior que exercemos sobre o meio ambiente e como tirar melhor proveito do que ele tem a oferecer, por exemplo com a utilização de vidros que capturam luz infravermelha (que não são capturadas por painéis solares) e a transforma em eletricidade, ou pela bioluminescência quimicamente induzida em plantas para reduzir o consumo de eletricidade em cidades, fazendo da Expo um grande “laboratório para a sociedade do futuro”.
De lá pra cá, muita coisa mudou. O momento crescente do Japão de outrora, vindo inclusive do sucesso dos Jogos de 1964, nem de longe se parece com o momento atual, apenas 4 anos após o desastre econômico dos Jogos Olímpicos de 2020 (+1). A economia do país vai de mal a pior e o ceticismo de parte da população em relação à Expo é evidente. A “modesta” projeção de 28 milhões de visitantes também demonstra que o governo está ciente do momento que o país vive, e as críticas a respeito desse tipo de evento megalomaníaco sempre existiram e sempre existirão. A Expo '70, por exemplo foi contemporânea da revolta estudantil que eclodiu no Japão no final de década de 1960, mas ainda assim, estima-se que ela tenha terminado com um lucro em torno de 100 milhões de dólares e um legado arquitetônico que proporcionou um reconhecimento mundial da arquitetura produzida no país.
Arquitetura essa que também vive um novo momento. E a escolha da madeira como material utilizado na principal estrutura da Expo deixa clara essa intenção de construir de forma mais responsável e economicamente viável. A um custo de aproximadamente 1,5 bilhão de dólares, a Expo 2025 tem a paradoxal tarefa de promover um uso mais consciente dos recursos e, por fim, do capital das nações em prol da população.
Mas mesmo diante de todas as dificuldades, eu prefiro olhar o evento de maneira otimista. Tenho esperança que muitas das tecnologias apresentadas serão implantadas em grande escala, beneficiando pessoas no mundo todo. Acredito na força desses eventos e no potencial que eles têm de gerar laços importantes e duradouros entre nações e pessoas. Acredito que que a Expo tenha o poder de nos fazer relembrar que somos todos passageiros do mesmo barco. E que mesmo em meio a um mundo cada vez mais polarizado, é importante tentar evoluir socialmente através da união. O grande anel de madeira de Fujimoto promove o equilíbrio que o mundo precisa em momentos turbulentos, onde a convergência para o mesmo ponto em comum passa a ser crucial.
Esse texto é a primeira parte do “Especial Expo” desse ano.
Minha visita à Expo 2025 está programada para o começo de maio, e volto mês que vem com as primeiras impressões de lá, onde vou poder visitar alguns pavilhões, incluindo o brasileiro, que, a princípio, era um projeto do escritório MK27, liderado por Marcio Kogan, mas que infelizmente teve que retirar seu time de campo, por conta de uma redução no espaço designado ao pavilhão. Confesso que não estou por dentro do assunto, mas enfim, coisas que só acontecem com o Brasil.
Site oficial da Expo 2025 - https://www.expo2025.or.jp/en/
Até lá!
👏🏼😄
Obrigada por compartilhar conosco (gratuitamente) tanta informação, conhecimento e cultura!!! Amei 😍
Ansiosa pra ver isso tudo de perto!! 😄🇯🇵