Penso que uma maneira adequada de se medir o sucesso ou o fracasso de um edifício é a ligação que ele consegue manter com as pessoas que utilizam seu espaço.
No caso do Nakagin, essa rica relação morador x morada é contada através desse registro fotográfico realizado pelo Nakagin Capsule Tower Preservation and Restoration Project, fundado por um ex morador chamado Tatsuyuki Maeda enquanto o edifício ainda estava de pé.
Além da comoção e do esforço de alguns moradores para evitar a demolição, entrou em cena também Yuka Yoshida, fundador da Showcase Tokyo Architecture Tour, que promovia visitas guiadas ao edifício e comercializava pacotes de estadia em algumas das cápsulas, bem como visitas virtuais, atraindo a atenção de admiradores do projeto de diversas nacionalidades.
Hoje Maeda é um dos responsáveis pela reforma das cápsulas que foram “salvas” e que devem encontrar morada em museus mundo a fora.
Muitas pessoas fizeram do Nakagin sua casa ou espaço de trabalho principal - apesar de originalmente o público alvo ser composto por trabalhadores que geralmente moram longe do centro, e utilizariam a cápsula durante a semana - e há muitos relatos do senso de comunidade e do vínculo que surgiu entre esses moradores. Até que ponto o design é capaz de promover essa ligação, eu não sei ao certo. Mas no Brasil, por exemplo, há outros relatos desse mesmo senso de comunidade dentro do Copan, em São Paulo (Niemeyer) e acredito que a mesma comoção surgiria em uma provável demolição.
O projeto de Kisho Kurokawa era formado por duas torres e 140 cápsulas pré fabricadas em concreto que eram trazidas prontas e fixadas (com apenas 4 parafusos) à estrutura principal. Concluído em 1972, o Nakagin foi talvez o melhor exemplar de projeto construído do movimento metabolista surgido na década de 1960 sob a batuta - principalmente - de Kenzo Tange e que tinha, entre outras premissas, o crescimento orgânico (de edifícios, cidades…), megaestrutura e, como produto final, o módulo; que já havia sido apresentado em outros projetos e tido sua apoteose na Expo ’70 de Osaka. Nas palavras de Kurokawa, o módulo era: “…o terminal de um nômade cosmopolita e uma fortaleza contra a sobrecarga de informação” na então “information society”. O projeto previa também a substituição das cápsulas a cada 25 anos, ou conforme a necessidade, bem como a adição de outras unidades.



Nada disso, porém, foi levado adiante nesse projeto. Não houve adição, remoção, nem substituição de módulos e o edifício degradou-se com o tempo. Uma falha no projeto, por exemplo, impedia que apenas uma unidade fosse retirada ou substituída (as cápsulas de cima e de baixo deveriam ser retiradas também). O uso do amianto que era normal naquela época mostrou-se outro problema ao longo do tempo. Especulação imobiliária, pessoas que herdavam as cápsulas sem a intenção de utilizá-las e outras diferenças a respeito do custo de reforma e manutenção do edifício também foram ingredientes que contribuíram para o triste destino desse ícone da arquitetura pós-guerra.
No fim das contas, o Nakagin seguiu o propósito do metabolismo até o fim de seus dias. Se por um lado foi um fracasso, por outro, seu desmonte foi mais como uma explosão e suas partes (cápsulas) cairão muito além dos limites do próprio Japão. Talvez até sobre todos os continentes. Como diz Kiwa Matsushita no livro: “…atravessariam o mar como uma penugem de dente-de-leão.”
Particularmente, gostaria muito de ter visto esse projeto prosperar. Que as unidades tivessem sido substituídas no tempo certo. Que outras unidades fossem construídas e que seu legado permanecesse. Acho que essa obra tinha a cara de Tokyo, uma cidade onde hotéis-cápsula são tão comuns quanto lojas de conveniência e moradias compartilhadas. Onde pessoas vivem em unidades de 10, 12 metros quadrados apenas pela comodidade de estar em Tokyo. Talvez o Nakagin tenha sido o projeto certo na hora errada. E que as ideias por trás desse projeto realmente fossem avançadas demais para a época.